Os veredeiros são grupos de pessoas que vivem em áreas próximas a veredas, que são ecossistemas típicos de certas regiões do Brasil, especialmente no cerrado e em outras áreas de planícies inundáveis. As veredas são caracterizadas por uma vegetação específica, incluindo palmeiras como o buriti, e muitas vezes estão associadas a cursos d’água permanentes ou temporários. As comunidades dos veredeiros têm uma relação profunda com esse ambiente e dependem dele para sua subsistência.
As principais atividades desenvolvidas por esses grupos são o cultivo de alimentos, a criação solta de gado e a extração de frutos do cerrado, tais como o buriti, o pequi, cocos e sementes de mamona e plantas medicinais.
Os veredeiros mantêm uma relação de interdependência com a terra; no caso desta comunidade específica, com as veredas, que é o elemento crucial para a construção de sua identidade. Cada comunidade é reconhecida e nomeada pelo rio ou vereda a que pertence, dado que reforça o fator identitário da relação que estabelecem com o território.
A década de 1970 representou para as comunidades tradicionais do norte de Minas Gerais um momento de inflexão e aceleração de processos que trouxe uma série de conflitos relacionados à expropriação de terras e ameaças aos modos de vida tradicionais.
A comunidade veredeira enfrenta e vivencia atualmente, entre outros embates, segundo o pesquisador Breno Silva, “o limite às áreas de uso comum e a degradação das microbacias pelos maciços de eucalipto que acabam por secar as veredas, espaços fundamentais para a existência dessas comunidades”. Segundo o autor, a organização política, o cultivo e a troca de sementes crioulas, fomentados por projetos que buscam a manutenção da agrobiodiversidade face às monoculturas empresariais desenvolvidas na região, e ações de retomada, figuram entre as principais estratégias de resposta dessa população.
Para fazer valer seus direitos como povos tradicionais, as comunidades veredeiras criaram em agosto de 2019 a Associação Central das Comunidades Veredeiras (Acever), mas já vinham se organizando há muito tempo, uma vez que a ameaça cada vez mais latente ao seu modo de vida pode ser observada desde os anos 1970. Em 2014, realizaram a retomada da Fazenda Alegre, área reivindicada, e que, até abril de 2020, estava em trâmite no Ministério Público Estadual (MPE-MG).
A partir da organização política, as Comunidades Tradicionais Veredeiras do Norte de Minas reivindicam seus direitos, visando o reconhecimento do território e a proteção e a recuperação das veredas e das águas. Nessa toada, conquistaram espaços importantes de visibilidade e articulação política, como uma cadeira no Conselho Nacional de Povos e Comunidades Tradicionais e na Comissão Estadual de Povos e Comunidades Tradicionais de Minas Gerais. Além disso, realizaram grandes encontros de Comunidades Tradicionais Veredeiras do Norte de Minas.
Assim como outras comunidades tradicionais, os veredeiros enfrentam desafios como acesso limitado a serviços básicos, falta de oportunidades econômicas e ameaças à degradação ambiental. A expansão agrícola, a urbanização e a exploração de recursos naturais também podem afetar essas comunidades.
Os veredeiros possuem culturas e tradições únicas, que incluem danças, músicas, artesanato e crenças espirituais relacionadas às veredas. Essas tradições são transmitidas de geração em geração.