No coração do Brasil, nas vastas extensões de Tocantins, Maranhão, Piauí e Pará, existe uma comunidade de mulheres que há gerações desafia as adversidades da vida em uma região marcada pela seca, pela pobreza e pela desigualdade social. Elas são conhecidas como quebradeiras de coco babaçu, um grupo de mulheres fortes e resilientes que desempenham um papel fundamental na preservação do meio ambiente e na luta por seus direitos.
A palavra “quebradeira” faz referência ao ato de quebrar o coco do babaçu, que é uma palmeira nativa da região e desempenha um papel fundamental na vida dessas mulheres. O babaçu fornece uma gama de recursos essenciais para a subsistência das comunidades locais, incluindo óleo, amêndoas, fibras e palha. Porém, a coleta desses recursos é uma tarefa árdua e trabalhosa que requer habilidade e força física.
As quebradeiras enfrentam diariamente desafios que vão desde a escassez de água até a falta de acesso a serviços básicos de saúde e educação. Todavia, essas mulheres não apenas sobrevivem, mas também prosperam por meio de um profundo conhecimento da natureza e da solidariedade comunitária.
Além de conhecer as épocas certas de coletar o babaçu, garantindo que a planta seja preservada e continue a fornecer recursos no futuro, organizam-se em grupos para coletar, processar e comercializar os produtos derivados do babaçu. Nos últimos anos, têm se mobilizado para defender seu território e seus direitos, exigindo o reconhecimento de suas terras como territórios tradicionais e a proteção do babaçu contra a degradação ambiental.
Na busca por melhores condições de vida e de trabalho, estão estruturando cooperativas e associações para aprimorar suas condições de trabalho, obter preços justos para seus produtos e acessar programas de apoio do governo.
A luta das quebradeiras de coco babaçu também é uma luta pela igualdade de gênero, já que essas mulheres desafiam estereótipos de gênero ao ocupar espaços tradicionalmente dominados por homens. Elas são líderes em suas comunidades, defendem seus direitos e promovem a autonomia das mulheres.
Com o avanço das demarcações de fazendas e a instalação de cercas, as quebradeiras tiveram seu acesso aos babaçuais reduzido; consequentemente, seu sustento ficou inviável, em várias regiões. Depois de muita luta e discussões, por iniciativa das Quebradeiras do município maranhense de Lago do Junco, a “Lei do Babaçu Livre” foi promulgada e está valendo em alguns municípios dos estados do Maranhão, Piauí, Pará, Tocantins, Mato Grosso e Goiás, mas ainda encontra resistência por parte de alguns fazendeiros que cobram taxas para a retirada dos cocos ou até mesmo proíbem a entrada das Quebradeiras. Essa lei foi aprovada pela Comissão do Meio Ambiente da Câmara, em 2007, na qual fica proibida a derrubada de babaçus, dá livre acesso às Quebradeiras aos babaçuais, mesmo em áreas privadas, e especifica regras para seu manejo.
A Articulação de Mulheres Quebradeiras de Coco Babaçu – AMQCB, criada em 1995, é atualmente denominada Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu – MIQCB, e foi reconhecido em 2002. O MIQCB é uma rede que envolve várias cooperativas, associações e clubes que lutam pela preservação de suas comunidades e dos babaçuais. Entre suas bandeiras estão saúde, educação e demarcação de territórios, entre outras causas.
As quebradeiras de coco babaçu não estão sozinhas em sua luta. Movimentos sociais, organizações não governamentais e defensores dos direitos humanos têm apoiado suas demandas e amplificado suas vozes. A solidariedade nacional e internacional desempenha um papel crucial na pressão por mudanças significativas.
Uma das frases mais ditas nos movimentos é “Não existe babaçu livre com terra presa”.